(...) Não sei se todas as pessoas adultas se recordam bem de si próprias enquanto rapazes ou raparigas adolescentes. Não sei como olham para os adolescentes de agora, se os reduzem frequentemente a uma crítica imediata e dura ou, se pelo contrário, os idolatram numa posição regressiva de, afinal, poderem voltar atrás e ser (um pouco) como eles. E não sei também, entre aqueles que recordam bem os adolescentes que foram, que destino deram agora a essas memórias, ora difusas, ora seguras, por vezes isoladas ou bem delimitadas no tempo, por vezes em profunda continuação de si próprios, quer no que diz respeito ao tempo anterior (infância), quer no que diz respeito á vivência futura, transporta para o presente, para o aqui e agora da vida de cada um. E não sei ainda se sobre essas memórias construíram factos ou acontecimentos que, á distância crítica dos anos, pareceram ternos, seguros, construtivos ou se sobre elas nada restou senão mágoa, desamparo ou solidão. Não sei se essas memórias representam vida ou morte, amor ou ódio, construção ou desligação, positivo ou negativo. Talvez sempre ambos, talvez...
Não sei também se aceitam ou não facilmente o desafio (...) de olhar novamente para os adolescentes que foram (independentemente do que isso possa fazer sentir ou pensar nos dias de hoje) e tolerar olhar de forma livre e descomprometida qualquer adolescente que conheçam ou que cuidam, enquanto filho, neto, sobrinho, aluno ou amigo.
Porque nesse desafio de escutar os outros para compreender, de olhar para ver, de responder para conter, clarificar, aliviar ou (re)construir, implica um profundo reencontro connosco próprios, um retomar a visita a paisagens e teatros também outrora nossos, também outrora palco de múltiplas alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, avanços e retrocessos no longo caminho de um crescimento que, afinal sem rodeios, dura sempre uma vida toda.
* in O vento á volta de tudo - uma viagem pela adolescência
Pedro Strecht
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