Se considerarmos que a organização das estruturas mentais na sua relação harmoniosa com o organismo, com o próprio e com as pessoas, tem por base o jogo dialéctico entre a ansiedade e a defesa contra ansiedade, entre a depressão e a defesa contra a depressão, poderemos admitir que a base da saúde é a organização dos mecanismos de defesa.
Se admitirmos que a neurose resulta basicamente da incapacidade do indivíduo para resolver a ansiedade normal de todo o ser em evolução. Se admitirmos que a depressão é basicamente a falta de apoio e a frustração inevitáveis do curso de um processo de crescimento, poderemos admitir que a neurose e a depressão se organizam, de forma mais ou menos adequada, conforme o individuo encontra à disposição pessoas, coisas e situações, mais ou menos favoráveis à satisfação das suas necessidades fundamentais.
Se a neurose e a depressão são primariamente inter-relacionais - nos grupos dos pais e da pátria - e, posteriormente, autónomas, poderemos admitir que Prevenção para a Saúde exige basicamente ambiente apropriado para que o ser se organize como pessoa, mesmo que afectiva, intelectual e socialmente, inevitavelmente dependente dos outros.
A organização social tende, actualmente, a iludir a ansiedade e a depressão das pessoas, através dos múltiplos artifícios da sociedade de consumo (...)
Saúde não é apenas medicina, e saúde mental não é apenas psiquiatria. A saúde é uma tarefa de todos os técnicos e de todas as pessoas de uma comunidade. É, portanto, basicamente uma tarefa de ordem política e educacional. Uma educação geral sanitária deve ser basicamente dirigida ao bem-estar, equilíbrio e consciência - ligação do papel social dos pais. Uma educação social deve respeitar, antes de tudo, a relação da criança com o grupo natural (...)
in Vida, Pensamento e Obra de João dos Santos
João dos Santos, considerado o pai da pedopsiquiatria em Portugal, era um Humanista na verdadeira acepção da palavra e não mais um demagogo, com quem tantas vezes a história do Humanismo se confundiu.
Munido de uma sagacidade em grau directamente proporcional à sensibilidade, era dotado uma inteligência emocional inata, que o projectava muito à frente do seu tempo.
Nasceu em Lisboa em 1913 e aqui morreu, em 1987.
Deixou uma vasta obra. Escrita e vivida.
Deixou palavras incompreendidas pela maioria dos homens do seu tempo, esquecidas pelos que lhe sobreviveram e ignoradas, ainda hoje, na sua imensidão e crua verdade, pela maioria daqueles que, diariamente, se cruzam na vida de milhares de crianças. Todos nós.
1 comentário:
Como sempre um tema que nos deixa a pensar e a olhar-nos por dentro!
FASCINANTE!!
Absolutamente de acordo com a frase de Lobo Antunes...pena que sejam livros que não podemos escolher antes de os começar a ler!
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